Este é meu filho!
Esta é a minha
casa!
Esta é a minha
mulher!
Este é o meu
carro!
Estas são
algumas identificações, que comumente podemos mencionar em nossa vida como
expressão daquilo que em nosso entendimento, foi conquistado e que
consequentemente se encontra sob o nosso domínio e posse.
Ao nascermos,
colocamo-nos diante de uma cultura do “isto é meu”, e seguimos nossa vida
justificando ano após ano esta cultura. Não medimos esforços para que ao longo
de nossos dias, acumulemos posse sobre as mais variadas formas de bens
afetivos, materiais ou conceitos que desenvolvamos em razão de nossa
manifestação no meio individual e no meio social.
Somos por
natureza seres que habitam as mais diversas vertentes de conceitos sobre si,
oscilamos em todas as direções e viajamos pelos diversos níveis de prazer ou
dor, que experimentamos como forma de desenvolver esta experiência terrena.
O bebe ao
nascer rapidamente cria uma identificação com os seus pais, e nesta
identificação ele constrói uma relação de posse sobre estes, e de uma maneira
obviamente não madura devido ao seu incipiente aparelho racional em formação, alcança
uma forma própria de desenvolver esta posse.
Na medida em
que o tempo passa, este bebe vai experimentando o contato com o restante de sua
família, o que lhe oferece novas oportunidades de exercitar e desenvolver o
sentimento da posse.
O desejo de
manter os pais com a atenção voltada apenas para ele o capacita, a desenvolver
o egoísmo, sim o egoísmo, ele entra em conflito com os irmãos na busca de receber
a maior atenção de seus pais.
Evidentemente
que este processo se desenrola de maneira inconsciente para o bebe. Na
continuidade de seu crescimento, ele experimenta uma nova forma de posse, que é
aquela em que ele entende que todo o brinquedo é seu, e ao gerar este entendimento começam os primeiros conflitos interpessoais
de sua vida, em decorrência deste sentimento de posse ganhar força dentro dele.
O tempo passa e
as oportunidades da vida vão oferecendo a este bebe que cresce, uma nova
maneira de perceber o mundo. Ele passa pela infância, adolescência e chega a
juventude tendo ao longo deste percurso, ratificado e potencializado em sua
personalidade esta veia de contato e de compreensão diante daquilo, que para
ele, torna-se uma veia comum de manifestação e de necessidade para a sua
sobrevivência emocional, possuir.
Mas o que torna
o homem tão influenciado na busca de obter posse sobre aquilo com o qual ele
entra em contato, ou sobre aquilo que seja razão de seus desejos?
A história
humana denúncia eventos onde a força e a crueldade, foram uma constância no
registro dos fatos que nos trouxeram até aqui. Estes eventos sempre causaram a
dor, o sofrimento e a desigualdade em nossa civilização. O homem em diferentes
fases da civilização humana, sempre gerou tendências e comportamentos
autoritários e dominadores, na disfarçada busca do controle sobre o outro,
tendo claras intenções de exercer a posse sobre.
A mente
limitada em sua capacidade de gerar discernimento, juntamente com os traumas absorvidos pela experiência da
personalidade, reforçam um sentimento que provém de registros cármicos oriundos
de outras passagens da personalidade sobre o planeta, e que resultaram em padrões energéticos
vinculados a necessidade da conquista, do domínio e da posse. Estes registros
se tornam parte em nós e nos absorvem de tal maneira, que qualquer pessoa se
refere a algum objeto pessoal como sendo meu. Dificilmente vemos pessoas
pronunciar é nosso, mesmo quando o objeto em questão é de domínio comum e não
individual tão somente.
Temos que estar
cientes de que não somos apenas o resultado do agora, esta é uma ilusão na qual,
muitos se perdem. Somos um resultado de um todo, as ações do passado e as ações
do presente influenciam sempre o momento seguinte.
Porém, não
acreditar que a vida é uma sucessão de eventos, que geram repercussão, é
extremamente sedutor.
Este pensamento
oferece-nos uma forma de isenção de nossa responsabilidade pelos fatos gerados
a partir de nossas intenções e ações. Quando ausentes desta compreensão ou
aceitação, agimos sem questionar as consequências de nossos atos, verbalizamos
intenções sem valorizar a contundência de nossas palavras, e isto
infalivelmente nos aprisiona a tudo aquilo com o qual tenhamos dirigido a nossa
atenção, seja pela posse materializada ou
pela volúpia de nossas intenções possessivas.
A sociedade
moderna nos coloca diante de expectativas que exigem cada vez mais um
posicionamento insano de parte da personalidade, pois, esta se vê ávida em
usufruir dos serviços e produtos disponíveis pela indústria de consumo.
A necessidade
consciente, não é suficiente para conceder ao individuo, discernimento para que
ele possa buscar os meios para supri-la na medida, quantidade e qualidade
daquilo que anseia possuir.
A posse
torna-se um instinto, tão voraz e capaz de criar uma dependência tão severa no
individuo, que ele perde a noção dos conceitos morais e éticos, para alcançar
seus propósitos na satisfação deste instinto.
Desta forma, me
permito qualificar a necessidade da posse, estar integralmente conectada com os
instintos humanos vinculados a demência, que envolve a criatura humana em suas
manifestações individuais e coletivas.
Um elemento que
passa despercebido pelas pessoas que são movidas por este instinto refere-se ao
fato de que a razão da posse estabelece, uma relação de propriedade com o
individuo, não exatamente na concepção percebida pelo individuo. O processo
natural observado pelo indivíduo o coloca na posição do agente que move e
domina a relação, no entanto, a relação concreta é inversa àquela observada
pelo individuo. Na medida em que ele permite se envolver de maneira tão
identificada com o objeto da posse, que ele passa a ocupar uma relação de
dependência para com o objeto.
E sem perceber esta relação de dependência,
ela é condensada em sua mente tornando-o conectado energeticamente com todos os
seus objetos com os quais, ele imagina-se ser o possuidor, ele apercebe-se como
o senhor da propriedade, do relacionamento, do projeto, de tudo aquilo que para
ele é motivo de sentir-se possuidor, proprietário ou dono.
Esta realidade
acaba gerando uma malha energética que estabelece entre todos os elementos
deste processo, uma relação de dar e receber. Mas, deve ser ressaltado neste
instante, que há um total prejuízo instalado e direcionado ao individuo que se
toma como o detentor da posse. Ele vai
ser o núcleo (catalizador) de onde a energia parte e para onde ela retorna o
que representa, uma fantástica perda de energia vital em seus corpos,
fragilizando-o substancialmente e o expondo ao ataque de seres vampirizadores,
que se servem de maneira similar da mesma energia que inconscientemente o toma
como padrão vibratório.
O que é
necessário ser compreendido pelo indivíduo é a sua transitoriedade nesta
existência física, e nada do que aqui esta é realmente seu. É um grande e miserável
engano, pois, a compreensão do possuir somente o aprisiona nesta realidade
impedindo a sua evolução e o desprendimento, de sua natureza física de
elementos que se aderem em razão de seus
instintos e desejos possessivos.
O sentimento a
ser nutrido e incorporado tem que necessariamente estar vinculado a ideia de que
as pessoas, os relacionamentos, os objetos e as circunstâncias que o indivíduo
interage nada mais são do que ferramentas no exercício de si mesmo.
Não somos
possuidores de nada, o que pensamos ter como propriedade é uma grande ilusão,
uma utopia que sera desvendada e colocada a nú, na morte daquele que se entende
o possuidor e o proprietário.
Este momento e
extremamente triste e opressor ao espírito, que se deixou envolver pelas malhas
da possessividade, enquanto transita na vida material como uma personalidade
humana.
Sequer o nosso
corpo é nosso, ao morrer ele não nos acompanha, ele é incorporado novamente
pela terra.
Temos que ter
em relação aos objetos, as circunstâncias, a profissão e aos nossos projetos
uma relação de independência. Eles estão sendo úteis a nós e nada mais do que
isto. Em um dado momento esta relação vai se desfazer, e devemos permitir que
assim o seja, para que possamos experimentar uma nova realidade.
Com relação as
pessoas e aos relacionamentos, o entendimento não difere em muito daquele
primeiro, porém, como estamos interagindo com seres como nós, e que merecem o
nosso respeito, assim como nós merecemos nos respeitar, fica clara a
necessidade de cooperação, de interação e gratidão a ser desenvolvida no
rompimento de uma relação, no afastamento de uma pessoa de nossa vida. Sempre
devemos permitir que as pessoas possam partir de nossas vidas.
Ao agirmos
deste modo estamos permitindo ser livres e concedendo liberdade ao outro, o que
evidentemente não acontece por parte daquele que usa dos instrumentos da
possessividade para se movimentar em sua vida.
A posse é uma
prisão a quem é a razão da posse, mas, igualmente o é, a aquele que se entende
ser o possuidor.
Contudo, a este
último, ela se revela mais profunda e determinadora de um processo de revolta
na perda de seu objeto de domínio.
Quem ganha com
esta relação?
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