Ideias da
morte, são sempre aquelas que se abatem sobre nossos pensamentos em tons cinzas
e negros.
Fugimos de tais pensamentos e normalmente acreditamos
que a morte é um “mal” inevitável.
Mas morrer não é simplesmente deixar de existir neste
plano físico, morrer no censo comum, é bem mais do que deixar de respirar e
mover-se interagindo com a vida que superficialmente conhecemos.
Morrer, antes de tudo, é um renovar-se, é conceder-se
a chance de recriar a própria vida nela mesma.
Dotados de um corpo físico, e integralmente ligado a
ele pelos nossos instintos, sentidos e ego, acabamos por manter um vínculo
quase que impossível de ser rompido, não fosse o próprio evento, de a morte ser
uma consequência que inviabiliza o uso deste corpo por nós tão amado e razão de
tanto apego.
Encontramos muitas razões para viver, e para isto os
humanos são obviamente dependentes deste corpo, e esta, indiscutivelmente se encarrega
de ser a primeira das razões.
Mas, vemos que cada civilização tem um apreço muito
grande pela vida, em decorrência das diversas observações que gera em relação a
vida. Nestas civilizações, as pessoas são ligadas a vida em razão das buscas
profissionais, outras são movidas pelos relacionamentos, riquezas, conquistas,
status, sentimentos de posse, desafios, enfim, poderia se enumerar uma
quantidade variada de razões que motivem o individuo a se fazer presente com
vida neste plano.
Há algo
interessante que me parece que foge inicialmente ao olhar mais atento de todos
nós. E talvez minha ideia possa não ser compartilhada por muitos, ou ninguém,
mas me permito a ela me dirigir e desenvolver alguns pensamentos que trataremos
mais adiante.
Sabemos que nossos dias são conturbados, a vida
moderna exige o cumprimento de muitos compromissos em todas as áreas da convivência
humana. Nosso dia incia-se muito cedo, muitas vezes mesmo antes do sol nascer,
e finaliza tão somente quando a noite se faz presente novamente.
Esta rotina intensa é massificadora, e torna-nos
sensíveis em nosso humor, e ao mesmo tempo, muito desatentos por mais “ligados”
que possamos pensar ser.
A intensidade da vida moderna nos retirou a virtude do
pensar. Sim, pode parecer antagônico, mas, isto é uma verdade. A praticidade de
nossos dias nos oferece tudo pronto, você não precisa mais pensar, pois, se não
vejamos, alguém sabe o número dos telefones celulares de toda a sua família?
Refiro-me tão somente a pais, irmãos e filhos, será que sabemos sem ter que olhar na agenda de nosso
próprio celular?
Poucos talvez tenham esta capacidade de guardar na memória
estes registros, pois, somos educados a processar nossas necessidades de
maneira automática, servindo-nos de aparelhos eletrônicos que “pensam” por nós.
Pois bem, mencionei o celular, mas poderia ter apontado tantas outras facilidades que
utilizamos, mas, que de certa forma nos tornam menos ágeis mental e fisicamente
ao longo de nossas vidas.
Estas facilidades nos retiraram a virtude do pensar,
do raciocinar, de uma maneira mais profunda, diria, gerar discernimento.
Somado a isto tudo, encontramos organizações e governos,
que igualmente entendem que quanto menos o ser humano usar suas capacidades cognitivas,
melhor será para o sucesso de seus intentos nas áreas que se movimentam, seja
organizações privadas ou públicas.
Quando deixamos de pensar, estamos lentamente
adormecendo o nosso intelecto, até o ponto em que ele se torna obsoleto ante as
novas necessidades que se impõe a ele. Como consequência, o individuo move-se dirigido
e manipulado de acordo com os interesses dos quais ele sofre influência.
Desta maneira, pensar sobre a vida e a morte, se torna
um assunto dispensável, cansativo e não prazeroso, porque pensar sobre isto?
E assim vamos dia a dia, nesta caminhada pouco
sensata, sem construirmos pensares que edifiquem um ser. Não pela quantidade
daquilo que materialmente ele possa ter conquistado na vida, mas sim, pela
qualidade de seu caráter, personalidade e capacidade de gerar uma consciência
desperta e lúcida, moral e ética.
Desta maneira comum em que a sociedade se move, a vida
é o único elemento que merece o nosso cuidado, a morte, esta, deixemo-la para
quando for a hora.
Quantas vezes ouvimos de nossos amigos e pessoas mais
próximas a nós, a seguinte frase: “Eu quero é aproveitr a vida”.
Certamente você já a ouviu diversas vezes, ou ainda, a
pronunciou. Você já percebeu que quando chega o verão, parece que se
intensifica esta vontade de maneira mais dramática e irresponsável.
Mas, e a morte, o que é morrer?
Ah! A morte é deixar de estar nesta realidade física,
e não mais possuir um corpo físico, é não poder mais “aproveitar” a vida, mas, será
que isto é realmente a morte?
Parece-me que não, pois vejo a muitas pessoas
caminharem entre nós devidamente aparelhadas com o seu corpo físico, e,
portanto, tenho que admitir que estejam vivas.
Não, realmente não posso admitir que estejam vivas,
simplesmente por possuírem um corpo fisicamente consolidado em nossa realidade
dimensional.
Um corpo se move dotado de um organismo que o
sustenta, sustentado por batimentos cardíacos que movimentam o sangue por veias
e artérias, irrigando e suprindo todas as necessidades deste corpo, mas há
vida?
Vida, um bem tão valorizado, mas tão
irresponsavelmente utilizado. Definitivamente em minha opinião, a vida não se
resume a tão somente dispor de um corpo físico, ela é bem mais do que este “simples”
mecanismo de movimentação.
Quantas pessoas estão mortas habitando corpos físicos
saudáveis?
É enumerável o universo constituído por estas pessoas,
e infelizmente o que vemos, é o crescente aumento deste universo.
Há entre as pessosa que trabalham com a
espiritualidade, a ideia de que a sociedade humana esta em processo de
despertar.
Sério?
Quero provas, não me satisfazem argumentos vãos, temos
que observar a sociedade como um todo e não restringirmos o nosso olhar para
onde nos é conveniente olhar.
Que existem pessoas acordando, existem, não podemos
negar, me ocupo com este propósito, me entrego a esta intenção, mas, somos
aproximadamente oito bilhões de pessoas no planeta.
Temos continentes onde populações vivem na mais absoluta
miséria, na mais extrema limitação e carência, temos populações dominadas por
seitas, religiões, regimes políticos, conglomerados econômicos, segregação
racial, pela indústria do sexo... Chega.
Em nossas ruas vemos pessoas, jogadas ao chão, com
fome, se drogando, vivendo na mais plena promiscuidade moral.
Assistimos em nosso pais o controle das massas menos
favorecidas através de um falso paternalismo, que somente as mantém em dependência econômica e moral.
Não falo aqui de milhões de pessoas, mas sim de
bilhões de pessoas por todo o planeta, vivendo suas misérias.
O que vemos como pessoas em processo de despertar é apenas
a ponta do iceberg da sociedade humana, estas, realmente estão em um processo
de despertar, pois já estão acima do limbo da consciência perturbada.
Mas, e o restante do iceberg, o restante de bilhões de
pessoas que continuam abaixo da superfície deste limbo?
Vida e morte coexistem simultaneamente em cada um de
nós. São as nossas escolhas que definem se estamos vivendo ou morrendo. Cada
segundo por nós gasto em nossas ações, pensamentos e emoções nos dirigem a vida
ou a morte, em vida.
Isto é mais importante e perigoso do que se possa
avaliar em um texto como este, vai muito além.
Desta forma, darei continuidade a este tema, abordando
de maneira especifica esta duplicidade de estado presente em cada um de nós,
vida & morte.
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