No silêncio das noites rompi
com os meus medos.
Foi diante das estrelas que
pela primeira vez experimentei minhas asas.
Contudo, confesso que em um
primeiro momento senti o peso de minhas incertezas, de minhas fobias, mas, a
brisa lentamente encarregou-se de abrandar minha ansiedade.
E em um instante de abandono
lancei-me em direção ao desconhecido, amparado apenas por alvas asas que
sincronicamente moviam-se me elevando as alturas nunca antes experimentadas.
Já em voo livre, sustentado pela
coragem da qual fui tomado, olho para baixo e vejo o quão é insignificante as
correntes que me prendiam a pesares e culpas. Observo o quanto mitiguei socorro
sem saber do que eu era capaz, e agora... Agora que descobri que sou livre,
perdoo meus equívocos, meus enganos e liberto-os para partirem de mim.
Sem lembranças, sem sequelas
ou apegos, continuo subindo em direção aos desafios deste universo, onde a vida
se faz em sons e matizes que desafiam ao artista em sua obra mais audaciosa.
A vida não se tinge de
cinzas, pelo contrário, é a própria cor em constante metamorfose, alcançando
tons diversos em sua pluralidade de manifestações.
Confundo-me por um segundo,
ao experimentar a diversidade da composição na qual embevecido me permito
contemplar.
Sou astro, sou cometa,
sou uma nebulosa, uma galáxia inteira em
seu processo de criação, experimentando a vida como jamais pensei existir, em
um processo frenético e exuberante nas suas composições e em sua perfeição.
Quisera eu que minhas
audácias pudessem ter me levado ja em meu passado a este voo, mas,
contemporizo-me ao saber que aqui, meus, passado, presente e futuro coexistem
em unicidade e sintonia com a vida no agora.
Mergulho por espirais
luminosas que me conduzem a outros universos, onde a desigualdade dos corações a muito
extinguiu-se em favor do amor, dos amores, dos quereres bem ao todo e ao nada.
Sinto-me igual, sem
distinções a serem expressas ou denunciadas, pois, em minhas asas já não mais
habita as correntes dos desiguais, dos desamores.
Rompi com os elos e cadeados
que censuravam minha mais sublime manifestação.
Agora que sei que componho o
todo e o nada, que sou aceito como sou,
que me importam os conceitos, que me importam as aparências, quando
percebo que a vida é simplesmente viver, viver e deixar viver.
Voar sem limites e sem
causas, apenas deixar fluir por entre meus átomos a presença única do amor, que
me concede a igualdade e a estabelece como fonte vivida da própria vida, da
própria existência.
Não me cabe mais medir,
atribuir, conceder ou condicionar a vida, quero apenas a sentir vibrante,
iluminada e plena em mim... Não, não mais em mim, em nós, por todos nós.
Quero dizer, quero
afirmar, porque sinto, porque vivo esta
verdade:
Nós nos amamos!
Sou um astro? Sou uma
estrela? Sou uma nebulosa? Sou uma Galáxia?
Na realidade sou tudo isto.
Eu sou, na verdade, o que
você é, porque somos o universo, e o universo é nós, no singular e no plural
daquilo que cada um e todos nós somos, a vida.
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