quarta-feira, 6 de agosto de 2014

ANDARILHO






Nas trilhas da vida andarilho me fiz.
Atravessei fronteiras sem respeitar limites.
Cruzei oceanos serenos e revoltosos.
Como se flutuasse sobre estes.



Em montanhas e desertos escrevi páginas.
Do livro de minha historia.
Cujas linhas registram minhas perdas e conquistas.
Que me trouxeram até aqui.



Com o vento como impulso me movi.
Nas águas das emoções afoguei minhas dores.
No fogo do sol aqueci meu coração.
Na rigidez dos terrenos edifiquei minha tenacidade.



Reconheci cada alma humana em sua verdade.
Experimentei a solidão como companhia.
Tive o céu como teto.
E a relva como abrigo.



Invejei ao condor em seu vôo livre.
Temi aos raios como expressão da morte.
Pacifiquei meu espírito nas primaveras.
Deslumbrei-me com a aurora boreal.



Ao norte vivenciei minhas maiores batalhas.
Onde a vida é tão efêmera quanto a felicidade.
Aprendi a valorizar cada dia em seu amanhecer.
E cada noite de lua cheia.



Reconheci a sabedoria da natureza.
Em seus ciclos de vida e morte.
Na exuberância e na escassez de seus recursos.
Sem culpas ou julgamentos ela se impõe às existências.



Reconheci a criança que habita meu âmago.
Que se permitia dançar na chuva.
E chorar nas noites insones.
Quando até da presença de Deus duvidava.



Tomei ciência das carências que me dominam.
Ao ver as andorinhas em revoada aos pares.
Cantei canções que brotavam de minh’alma.
Como lamentos de um solitário andarilho.



As pedras em meu caminho foram.
Minhas ouvintes atentas e silenciosas.
Sem jamais expressarem censura.
Apenas mudavam suas formas e tamanhos.



Surpreso com o que deixei para trás.
Ansioso com o que o destino possa me reservar.
Persisto nesta busca indefinida de meu eu.
Tendo apenas a mim mesmo como personagem.



De uma epopeia cuja trilha sonora.
Ora seja a desesperança gélida de meus dias.
Ora a euforia audível de minh’alma.
Em teimar em acreditar que vale a pena viver.



Roberto Velasco.

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